O
ano era 1989. 29 de janeiro. O jovem FRANCISCO
ALVIBÁ GOMES FERREIRA, natural de
Luís Gomes,Estado do Rio Grande do Norte, ingressava na POLÍCIA MILITAR com um sonho: proteger a população, mesmo que essa
proteção pudesse lhe custar a própria vida. Passados 28 anos, o hoje tenente
coronel colhe os frutos de sua dedicação e inicia mais uma etapa da sua
trajetória na PM, ocupando agora o posto de comandante de Policiamento Regional
I, sendo responsável por uma área que abrange 53 municípios potiguares.
“A Polícia é a minha vida. Agradeço a Deus todos
os dias a oportunidade de estar aqui, de poder contar o quanto me sinto feliz
por fazer o que eu faço”, resume Alvibá ao ser questionado sobre o que representa
para ele a Polícia Militar.
O coronel recebeu a reportagem do MOSSORÓ HOJE
na tarde da última quinta-feira, 9, na sede do 2º Batalhão de Polícia Militar
(2º BPM). É lá que ele coordena o Comando de Policiamento Regional I, missão
que lhe foi atribuída pelo comandante da PM, coronel André Azevedo. “Deixei a
Secretaria de Segurança Pública de Mossoró no dia 30 de dezembro e me
apresentei no Comando Geral em 4 de janeiro, quando recebi essa missão. Não
tive tempo nem de descansar”, brinca Alvibá.
Ao longo de mais de uma hora de conversa, o
coronel falou sobre trabalho, família, angústias, conquistas. É esse relato que
você acompanha a seguir.
O COMEÇO
Alvibá ingressou na Polícia Militar em 29 de
janeiro de 1989, inspirado pelo exemplo que veio de casa: o pai, Afonso Gomes
Ferreira, falecido aos 89 anos, 50 deles dedicados à Polícia. “Meu pai passou
30 anos na PM, mas 20 anos na polícia civil, como delegado adjunto. Isso me
ensinou que a polícia não enrica ninguém, mas engrandece a natureza do homem,
porque você ajuda as pessoas, salva vidas. Vendo meu pai trabalhar, me inseri
na carreira militar com a mesma vontade, minha inspiração vem dele”, revela.
A formação para iniciar o trabalho na rua
ocorreu na Academia de Polícia do Ceará, ao longo de três anos. Na sequência,
Alvibá passou a atuar em unidades operacionais na capital do Rio Grande do
Norte, Natal. “Depois vim para Mossoró, onde passei, inicialmente, três anos.
Na época, Pau dos Ferros era subordinado ao Batalhão de Mossoró, então fui
transferido para a 2º Companhia de Pau dos Ferros, onde passei a ser o
subcomandante e vice-diretor do presídio de lá”, relembra.
Percorreu ainda nos anos iniciais na PM cidades
como São Miguel, Alexandria e Patu. “Em 2000 voltei a Pau dos Ferros,
instalando e montando o 7ª Batalhão de Polícia Militar. Fui também para Assú,
período em que cursei minha especialização em Estudos de Criminalidade e
Segurança Pública pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)”, destaca.
Alvibá fixou residência em Mossoró no de 2003,
passando pelo comando de pelotões, batalhões, companhias, da Penitenciária
Mário Negócio, chegando a ocupar o posto de secretário municipal de Segurança Pública
e Defesa social durante quase dois anos, na gestão do ex-prefeito Francisco
José Júnior. “Saí satisfeito e feliz. Fui convidado para ajudar o Município,
estava no comando do Batalhão e hoje me sinto satisfeito em ter voltado para a
PM”, frisou.
DESAFIOS
“Todos os momentos foram difíceis. Em
Alexandria, por exemplo, presenciei conflitos de família e a PM tentando não se
envolver nesses conflitos, mas ao mesmo buscando resolver a situação de
violência. Em São Miguel, foram conflitos de família X político, resquícios de
luta por pedações de terra”, pontuou.
O coronel afirma que atualmente um dos maiores
desafios da Polícia Militar é o combate às drogas e o controle do sistema
prisional. “Hoje, a criminalidade é diferente. Antigamente se aprendia uma
trouxinha de maconha, uma pedra de crack, hoje são apreendidos 100 quilos, uma
tonelada, o que mostra, no caso de Mossoró, que a cidade está na rota do
tráfico".
“Essas facções criminosas vêm mexendo com todo o
Estado, com a estrutura das forças de segurança. O crime vem se estabelecendo
de forma, podemos dizer, organizada. Vem crescendo em cadeia, formando
barreiras mais resistentes para as forças de segurança”, relata Alvibá com
franqueza.
“O MEDO
PRECISA FAZER PARTE DA VIDA POLICIAL”
Com quase três décadas de experiência na PM,
Alvibá destaca a importância de sentir medo: “Se o policial disser que não tem
medo, ele está despreparado, porque o homem com medo é precavido, cauteloso e
atencioso nas suas ações, então ele tem que sair de casa todo dia com medo do
que vai acontecer e também com medo do que vai fazer. A vida de pessoas
inocentes e do próprio policial depende de um posicionamento adequado dele. O
medo leva a frieza e não ao pânico, ao desespero. É preciso ter frieza para que
se consiga contornar situações. O medo precisa fazer parte da vida policial”.
O coronel garante que o PM, ao entrar em um beco
escuro, sem saber o que pode encontrar pela frente, sente medo, o que não é
demérito para profissão. “Quando você entra em um beco escuro, com pessoas
possivelmente armadas, que disparam contra sua guarnição, você tem medo, então
vai ter cautela de como reagir, preservando a sua vida, das pessoas inocentes
que podem estar na linha de tiro, e dos PMs que estão com você. Se o bom policial
trabalhar essa conduta na rua, ele está passível de errar menos”, orienta.
“FARIA
TUDO NOVAMENTE”
E se pudesse voltar no tempo, Alvibá escolheria
outra profissão, com menos riscos e dificuldades? O coronel afirma
categoricamente que não. “Não é a melhor das profissões, mas eu iria fazer tudo
do mesmo jeito. Mesmo com todas as dificuldades financeiras do Estado, que não
são de hoje, eu voltaria à estaca zero, faria tudo novamente, porque foi essa a
vocação onde eu aprendi a trabalhar. Sou bacharel em direito, comecei outras
faculdades, mas a minha missão, dada por Deus, é de ser PM, continuo satisfeito
com o trabalho que faço”.
O tenente coronel reforça que a PM, assim como
qualquer outra profissão, exige comprometimento e dedicação. “Quando se busca
resultados, você terá portas abertas em diversos aspectos. Agora quando se
chega no trabalho com má vontade, indisposição, isso se reflete em toda a sua
tropa, e, consequentemente, no cidadão de bem, e o PM está na rua para atender
bem a população, para servir, para isso que a população paga seus impostos,
então não se pode ir para a rua para ser grosseiro, agressivo, violento com
quem merece atenção”, orienta.
UMA NOVA
PM
Para Alvibá, a Polícia Militar vem buscando
mudar o seu foco no que diz respeito ao contato mais próximo com a população.
“A PM continua sendo rígida e contundente contra quem está cometendo crime, mas
abraça, com projetos como o Ronda Cidadã, a população, isso é
importantíssimo. Isso faz com que as pessoas se sintam seguras e confiantes
com a presença da polícia. É preciso acabar com a visão que ainda existe da
época da ditadura”, diz.
Perguntando sobre o que angustia o policial, o
coronel responde que é o fato de, muitas vezes, o PM não conseguir o resultado
que esperava nas ruas. “Nenhum policial sai de casa hoje com a certeza que vai
voltar. Quando tentamos resolver o nosso trabalho e não conseguimos, mesmo
sabendo dos nossos limites, isso nos angustia, porque buscamos resultado
positivo, isso do soldado ao coronel”.
FAMÍLIA
Alvibá é casado há cerca 20 anos com a
enfermeira Sílvia Regina, com quem tem dois filhos: Bruna, de 19 anos, e
Felipe, de 17. A mais velha ingressará agora no curso de Engenharia da
Computação, na Universidade Federal do Ceará (UFC). O mais novo quer seguir os
passos do pai, e já se dedica para realizar o concurso da Polícia Militar
anunciando para este ano pelo Governo do Estado.
O coronel revela que, por ele, os dois seriam
PMs. Bruna, inclusive, chegou a iniciar a formação na Academia de Polícia em
João Pessoa, tendo sido aprovada em quarto lugar no concurso público. “Ela já
tinha passado nos exames intelectuais, psicotestes, mas não quis continuar. Por
mim, meus filhos seriam policiais militares também. Minha família é minha
paixão”, enfatiza.
E é na família que Alvibá encontra a sua
fortaleza. “Se não houver o apoio familiar o PM entra em crise, em parafuso. A
pressão que sofremos da sociedade, do nosso comando, é grande, então o policial
que não tem uma boa condição familiar ele termina entrando em situação de
crise, sem ter com quem conversar. Lá em casa, o meu confessionário é minha
esposa, na vida não há só coisas positivas. São 28 anos de polícia, 20 de
casado. O que a gente já passou junto, é um colegiado de informações e
situações. A família é quem faz a gente se sentir sólido nesse trabalho”,
conclui o coronel.
FONTE – MOSSORÓ HOJE